quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Vou contar uma história sobre uma garota que amava sonhar, mas não tinha coragem para realizar nenhum dos seus sonhos. Ela foi uma criança adulta e agora é uma adulta criança. Cresceu no tamanho e na quantidade de informação acumulada, mas uma parte permaneceu quase intacta, seus sonhos continuavam sendo tão absurdos e românticos quanto de uma menina. Era como um hobby, não precisava necessariamente de um lugar para fazer isso, nem de equipamentos especiais, nem mesmo precisava dormir, seus sonhos estavam ali a qualquer hora que quisesse, bastava abrir a caixinha dentro da mente inquieta e eles saíam todos correndo embaralhados e confusos de lá. Era difícil compartilhá-los com alguém, até porque eles mudavam a todo instante e de acordo com o humor, mas alguns em especial já a seguiam por uma vida inteira, estes eram os mais secretos e também aqueles que até mesmo evitava pensar em qualquer lugar ou momento, pois despertavam um sentimento tão forte que fazia o coração saltar dentro do peito, os olhos brilharem, e o sorriso era inevitável surgir de um canto ao outro. De dentro de sua casa pequena, de paredes brancas e cortinas marrons, parecia uma visitante ali, algumas roupas dobradas outras jogadas, uma desogarnização em razoável ordem, espelhos que quase nao eram limpos nem usados, e livros , cadernos e papéis para todos os lados, "estou estudando, ela se explicava . Sempre tinha alguma desculpa na ponta da língua, mas na verdade não tinha um programa de estudos específicos. Alguns dias podia passar o dia entre os cadernos lendo as memórias e anotações antigas morrendo de vergonha de sua imbecilidade, até mesmo rasgava e queimava alguns,o que era um alívio por ter liberado um pouco mais de espaço na estante que estava quase caindo de tantas coisas. Outros dias ocupava-se tanto com os afazeres domésticos e trabalhos extras que mal tinha tempo de se lembrar de fazer algo além. Mas as vezes aconteciam aqueles dias especiais, onde os olhos já chegavam procurando um livro familiar, uma leitura apressada, uma mente enfervecendo de ideias, e tudo virava um acontecimento especial, nestes dias talvez tinha até música, sentava no quintal e quando olhava para o céu deixava a cabeça ali pra cima procurando entre as nuves uma resposta ou um significado de tudo, quando o pescoço doía endireitava a cabeça e lamentava as paredes de cimento, os prédios crescendo cada vez mais em volta ao ponto de já não achar com facilidade um lugar onde pudesse observar o sol se pondo mais. E aí vinham de novo os sonhos, cabeça pro céu, pescosço dormente, e vontade que não passava, o sonho mais secreto, uma casinha de qualquer jeito, podia ser pequena ou cheia de filhos, e no meio de um verdadeiro nada para alguns mas paraíso para ela. Umas árvores para chamar de suas, um jardim com o que desse, uns animais soltos no pasto, um lua tão perto com estrelas tão brilhantes, só mesmo lá poderia mergulhar na paz. Um lugar mais perto de Deus e longe do tudo que consumia todo o tempo e todos os dias de sua vida.