Escrevo cartas pra você, não consigo ligar.
Falar pessoalmente também não dá. Já não saio mais.
Voltando aquele velho conhecido
Companheiro de escuridão
Gosto de deixar a noite vir naturalmente
Sem acender as luzes
Até que a escuridão me tome por inteira
Até que a velha tristeza entra pelo vento frio
Da porta que ficou aberta
Da janela que não foi fechada
Das roupas espalhadas pelo chão
Da geladeira que guarda apenas água
As comidas são sobras de marmitas compradas pelas ruas
Apenas num ato de sobrevivência me alimento
Não sei mais quem sou nesses momentos
Se quero algo ainda
Se vou levantar de novo
Penso em tomar um coquetel de remédios as vezes
E viajar
Viajar para o cosmos
Talvez rir um pouco
Talvez beber algo
Ou poderia me alegrar um pouco seria bom dizem
Mas se me alegrar hoje
Ainda tenho o amanhã
E ele me amedontra tanto
Que fico só esperando ele chegar
Gemendo
Saiu sem querer
Temendo meu corretor não conhecia
Por isso ainda prefiro o lápis e o papel
Mas tenho medo de perder meus papéis por aí
E ser descoberta
E ter minha máscara sorridente e serena arrancada
Não sei
Aonde vou
Por isso fico